DEPARTAMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
GERÊNCIA DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: MÁRCIA CRISTINA PEREIRA CRUZ
III – Encontro de Formação Continuada da EJA
2008
Conhecendo mais sobre a ciência Andragógica
Mas o que é andragogia?
No tratamento da Educação de Jovens e Adultos, em um curso de formação de docentes, que atuam nessa modalidade de ensino, muitos aspectos devem ser considerados, principalmente aqueles que diferenciam a educação de adultos e a educação de crianças.
A ciência Andragógica tem sua origem na pedagogia, mas dela se aproxima e se distancia, à medida que precisa distinguir o relacionamento educacional da criança e do adulto.
A andragogia, enquanto ciência da educação de jovens e adultos surgiu muito recentemente no Brasil, apesar de há mais de cinco décadas ser alvo de discussão na América do Norte e Europa.
Independente da terminologia específica há muito se vem estudando e confrontando a forma de se fazer educação de jovens e adultos. Paulo Freire, no Brasil, na década de 60, levantou esta questão ao discutir as ideologias presentes na educação de adultos, desta época, que tinha em sua essência o caráter de domesticação, de adestramento da massa trabalhadora.
Dotado de grande criticidade, Paulo freire propõe, por meio de suas obras, em especial da Pedagogia do Oprimido (1968), uma pedagogia crítica, libertadora, com bases humanísticas, o que nos permite fazer um paralelo entre os princípios difundidos nas obras de Paulo Freire.
Retomando a história para entender o presente
A partir do século 7, na Europa, as escolas que tinham por objetivo preparar crianças e jovens para a formação religiosa eram denominadas catedrais e os professores que nela atuaram eram chamados de catedráticos. No afã de expandir a formação destas crianças e jovens, abrangendo além da formação religiosa, a formação em línguas e artes, estes catedráticos reuniram uma série de pressupostos sobre a aprendizagem, ao qual chamaram “Pedagogia”.
Etimologicamente, a palavra Pedagogia deriva do grego paidos (criança) e agogus (educar). Da mesma forma, o vocábulo andragogia tem raiz etimológica grega, na qual andros significa homem maduro e agogus educar, constituindo, então, a arte ou ciência de ensinar o homem maduro (o adulto).
Vamos refletir sobre o que é ser adulto? A quem se refere esta denominação?
Segundo Oliveira (1996), adulto é o “indivíduo maduro o suficiente para assumir a responsabilidade por seus atos diante da sociedade”.
No entanto, compreender o que significa a maturidade abrange diferentes concepções sociais e culturais, Por exemplo, na cultura islâmica, aos 7 ou 8 anos, o menino já tem maturidade para treinamentos-militares, fato que na cultura ocidental é inadmissível.
Buscando elaborar um conceito mais abrangente, Oliveira (1996) pontua que o conceito de adulto deve compreender pelo menos quatro aspectos da complexidade humana: o sociológico, o biológico, o psicológico e o jurídico.
O aspecto sociológico refere-se ao plano econômico, ou seja, à capacidade do sujeito de auto-sustentação, dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade e pela cultura em que está inserido.
O aspecto biológico diz respeito ao amadurecimento das funções reprodutiva. São considerados adultos o homem e a mulher biologicamente prontos para a procriação.
Concernente ao aspecto psicológico está independência psíquica do individuo. O sujeito adulto, do ponto de vista psicológico, é capaz de tomar decisões conscientes e equilibradas, independentemente da opinião de outrem. Age sob seus próprios princípios.
O aspecto jurídico está relacionado aos aspectos legais. O sujeito é considerado adulto quando é capaz de responder juridicamente por seus atos
Oliveira (1996) resume da seguinte forma:
O adulto é aquele que, além de ocupar o status definido pela sociedade, tem capacidade reprodutiva, é psiquicamente independente, é capaz de responder por seus direitos e deveres no convívio social.
É relevante ressaltar que o conceito de adulto é cultural, visto que varia de sociedade para sociedade e é esta que estabelece parâmetro para tal.
Definido o que é adulto, podemos estabelecer princípios andragógicos que são base para as propostas de escolarização. Estes princípios partem do pressuposto que o adulto é dotado de consciência ingênua e de consciência crítica, e que sua atitude depende da consciência predominante.
O adulto tem necessidade de compartilhar suas experiências de forma a confirmar seu ponto de vista e colocá-lo em discussão, visando, por meio da argumentação, influenciar as atitudes dos outros. Oliveira (1996) afirma que “a experiência é o livro do aprendiz adulto” e esta é a base de todo o trabalho pedagógico. A relação educacional do adulto é baseada na interação entre sujeitos, tendo o diálogo como essência.
O professor articulador desse processo deve estimular os educando a desenvolverem as habilidades de um bom falante e de um bom ouvinte, ou seja, habilidades que, por meio do diálogo, permitam-lhes a comunicação.
Também como princípio andragógico, a relação entre professor e educando deve ser marcada por uma grande animosidade, por se tratar de uma relação entre sujeitos aprendentes, na qual aprendiz e facilitador aprendem continuamente, tendo como foco de trabalho a aprendizagem e jamais o ensino, o que desloca o foco da ação pedagógica para o seu principal sujeito; o aluno.
Compreende que a motivação do adulto para a aprendizagem está sempre ligada às suas necessidades e a possibilidade de aplicação destes conhecimentos na resolução de seus problemas cotidianos. Aprender, neste sentido, pressupõe o conhecimento, habilidade e atitude. O conhecimento é o resultado da relação do sujeito com o objeto cognoscente, mediados pela ação do professor; a habilidade refere-se ao saber fazer, ao utilizar-se do conhecimento como ferramenta de intervenção na realidade e a atitude é a ação respaldada pelo conhecimento.
Resumindo, aprender é conhecer, é saber fazer e fazer. Aprender é agir sobre a realidade, munido de um novo conhecimento que, numa relação dialética, se expandirá a cada novo confronto com a realidade.
Oliveira (1996), ao descrever os princípios andragógicos, afirma que o processo de aprendizagem do adulto se desenvolve em 6 etapas distintas, ordenadas, que se inter-relacionam. São elas:
1. Sensibilização (motivação): O adulto, ao deparar-se com o objeto do conhecimento, deve sentir-se motivado a conhecê-lo, a desvendá-lo. Por isso, há necessidade da contextualização do conteúdo, de compreendê-lo em um contexto, em uma realidade.
2. Pesquisa (estudo): É o encontro entre o sujeito e o objeto cognoscente. É a realidade baseada na motivação do adulto em aprender.
3. Discussão (esclarecimento): Fase da contestação das verdades empíricas, visto que se estabelece um diálogo entre o aprendiz e a informação, mediado pela ação do professor.
4. Experimentação (prática): refere-se à aplicabilidade do conhecimento, como utilizá-lo.
5. Conclusão (convergência): É o momento em que ação e reflexão convergem em um ponto comum, entre a teoria e a prática. É a fase da interiorização, da reelaboração pessoal do objeto conhecido e a preensão do mesmo.
6. Compartilhamento (sedimentação): O adulto aprende quando consegue transpor o objeto conhecido para sua realidade, generalizando-o.
Há de se ter cuidado com a práxis educacional do adulto, para que seja sempre baseada na reflexão e ação, e que sejam garantidas as etapas acima descritas. Os conteúdos devem ser discutidos, vivenciados, apreendidos, evitando-se que o aluno torne-se um verbalista, ou seja, alguém que é capaz de refletir e expor suas idéias sobre os conteúdos, mas que não sabe colocá-las em prática, ou ainda ao contrário, um ativista que se expressa em fazer, em colocar em prática, sem refletir.
Conhecer a ciência Andragógica, aprofundar-se e reconhecer os pontos de convergência e de divergência desta com a pedagogia, é essencial para que não se cometa o erro secular de tratar a educação de adultos como a educação infantil.
O adulto tem que ser reconhecido e respeitado como sujeito conhecedor, com saberes próprios de quem, à revelia da sociedade capitalista, sobrevive em uma sociedade letrada, mesmo que privado de muitos bens por ela produzidos.
A ciência Andragógica surge para orientar a ação de educadores que, revestidos de conhecimento e humildade, colocam-se à disposição deste diálogo amistoso, preconizado por Paulo freire, em todas as suas obras, sendo essencial para que a educação de Jovens e adultos cumpra sua função formadora e emancipadora, respeitando as especificidades de sua clientela.
TEXTO ORGANIZADO POR: Márcia Cristina Pereira Cruz – Pedagoga e Especialista em Planejamento Educacional e Psicopedagogia
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