segunda-feira, 29 de outubro de 2012

2 - A Sequência Didática no Planejamento da Rotina

O texto abaixo foi encontrado em: Está ótimo! Aproveitem!



Como se contrói a sequência didática no planejamento da rotina da educação infantil?
Há sempre um risco quando o assunto é fundamentação teórica de um material didático, de um curso ou de qualquer coisa que pareça uma receita. No entanto, deixarei aqui algumas definições de conceitos que considero importantes para o acompanhamento da metodologia em questão.
Sei que corremos o risco de não reconhecer de onde vem uma ou outra informação. Dessa maneira, quero deixar clara a ideia de que tenho uma opção pela teoria de Henri Wallon, por ter sido ele o maior educador da infância dentro de uma concepção dialética de escola e educação primária. No entanto, Wallon possui uma teoria psicodinâmica e muitos dos conceitos usados no material são orgânicos, ou seja, a contribuição de Jean Piaget e de Vygotsky também pode ser localizada, embora como pano de fundo, de maneira secundária. Secundária não corresponde aqui a menos importante, mas sim, coadjuvante, pois consideramos a criança como uma plenitude de emocional e organismo, tendo o primeiro prioridade sobre o segundo.
Desta forma, ao trazer Wallon para as atividades de nossas páginas, não deixamos de dizer e de considerar que uma criança também tem seu desenvolvimento a partir de condições biológicas, mas carregamos a bandeira de que há um emocional e um neurológico que permeia e que define como  uma  matéria orgânica seguirá seu percurso, determinado por aquilo que ela vê, que ela sente, que ela descobre e principalmente que ela elabora.
O conceito central deste material é sequência didática, mas quero lembrar que é esta sequência, ou melhor, esta forma de trabalhar que irá garantir o que Chevallard chamou de transposição didática. Escrevi um livro só sobre transposição didática em 2005 e se houver alguma necessidade de resgatar o conceito, sugiro a leitura deste outro texto: Transposição didática -Por onde começar?, Editora Cortez, 2005, São Paulo.
Almeida (2005) nos diz que embora tenhamos percebido o termo transposição didática mais recentemente, pelo trabalho de Philippe Perrenoud (1993, p.25), que o define como a essência do ensinar, ou seja, a ação de fabricar artesanalmente os saberes, tornando-os ensináveis, exercitáveis e passíveis de avaliação no quadro de uma turma, de um ano, de um horário, de um sistema de comunicação e trabalho, é sabido que o termo foi introduzido pelo sociólogo Michel Verret, em 1975, e depois aprofundado e apresentado mais encorpado por Yves Chevallard, pensador e educador francês.
Em seu livro La transposition Didactique: du savoir savant au savoir enseigné amplia o conceito e diz que a transposição didática é composta por três partes distintas e interligadas: o savoir savant (saber do sábio), que no caso é o saber elaborado pelos cientistas; o savoir a ensigner (saber a ensinar), que é a parte específica aos professores e que está diretamente relacionada à didática e à prática de condução de sala de aula; e por último o savoir ensigné (saber ensinado), aquele que foi absorvido pelo aluno mediante as adaptações e as transposições feitas pelos cientistas e pelos professores, exatamente o trabalho que nós, professores de Educação Infantil, precisamos relembrar sempre como o nosso objetivo maior.
Para Chevallard, portanto, há sim diferenças entre aquilo que se elabora nos espaços puramente científicos e aquilo que é desenvolvido nos ambientes estritamente educativos. Não se trata de diferenças conceituais, mas de diferenças "textuais", pois elas estão no campo semântico e léxico e, por isso, precisam ser consideradas, porque as transposições as levarão em conta por demais. Chevallard (apud Dall´Asta 2004, p.69) diz que para que o ensino de um determinado elemento de saber seja possível, esse deverá ter sofrido certas deformações que o tornam apto para ser ensinado.
Portanto, fazem muito sentido as afirmações iniciais acerca da transposição didática, porque elas nortearão os apontamentos a serem realizados a partir de agora acerca das múltiplas confluências do tema. Primeiro, é importante lembrar que há entre um teórico e outro uma diferença de décadas, assim, fica claro o porquê da ampliação de um em relação ao outro: a didática, assim como tudo o que a rodeia, é um organismo vivo, com vida independente dentro do corpo escolar. Ela se modifica, se transforma, se (re)faz à medida que a sociedade vai elaborando suas transformações (e aqui fica clara, mais uma vez, a importância de não se trabalhar com uma infância necrosada). Não há uma outra dimensão escolar mais dinâmica que a da didática. Afinal, qualquer que seja o conteúdo a ser ensinado ou absorvido ele necessariamente terá que passar pela didática. Portanto, as nossas discussões acerca da transposição didática têm que ser entendidas dentro desta concepção multiforme e ininterrupta e, portanto, atualizada, modernizada, contemporanizada. Neste sentido, os conceitos importantes para mim são:

ÓRBITA PEDAGÓGICA: sistema que apresenta os conteúdos que estão diretamente ligados uns aos outros dentro de cada temática. (Almeida, 2010)

UNIDADE CORPORATIVA: organização dos temas para compor interrelações com a vida da criança. Esta unidade tem o objetivo de unir, dar sequência, e apresentar a lógica do cotidiano. (Almeida, 2010)

SEQUÊNCIA DIDÁTICA: é uma maneira de encaixar os conteúdos a um tema e por sua vez a outro dando logicidade ao trabalho pedagógico diário. Para haver sequência didática o aluno pode ter o trabalho desenvolvido a partir da música, dos jogos, das brincadeiras, do lúdico, do material concreto, dos textos e das explorações livres.

TEXTO: Texto: conjunto de palavras de um autor, em livro, folheto, documento etc. (p. opos. a comentários, adiantamentos, sumários, tradução etc.); redação original de qualquer obra escrita; 2 conjunto de palavras citadas para
provar alguma ideia ou doutrina; 3 trecho ou fragmentos de obras de um autor. (...) Texto: Graf. diz-se do material ilustrativo de uma obra (p. ex., gravura , mapa, foto, desenho etc.) que se imprime à parte, ger. em papel especial e em
folha(s), não numerada(s) ou com numeração autônoma, que se intercala(m) entre os cadernos dos livros. Etim lat. Textus, us narrativa, exposição, do v.lat. Texo, is, xui, xtum, ere tecer, fazer tecido, entrançar, entrelaçar, construir
sobrepondo ou entrelaçando, tb. Aplicativo às coisas do espírito, compor ou organizar o pensamento em obras escritas ou declamadas (...) (Antonio Houaiss)

PORTADORES DE TEXTO: os portadores de texto são objetos que, contendo diversos produtos, possuem marcas escritas. O portador de texto pode ser também conhecido como o suporte de texto. O texto deve ser compreendido em sua amplitude, portanto estamos falando dos tipos textuais. O texto gráfico, aquele formado pela junção de palavras, é sem dúvida o texto primeiro enquanto reconhecimento por parte do leitor; no entanto, temos vários outros textos também reconhecidos pelo leitor, mas que no primeiro momento acabam  quase sendo desconsiderados como um texto completo. Dessa forma, embora tenhamos mais informações completas advindas destes portadores de texto não os reconhecemos como primeira estância informativa. Os portadores de textos podem ser: elementos visuais que transferem informações aos leitores, portanto uma placa de trânsito é um portador de texto; muitos movimentos feitos pelos guardas de trânsitos são portadores de textos; muitos gestos realizados por nós são portadores de textos. Além das placas de trânsitos, dos gestos temos elementos semióticos, principalmente em embalagens, em manuais, em roteiros turísticos, que são portadores de textos. Portanto, ao encontrarmos estes portadores de textos temos uma informação, ou uma mensagem com sentido amplo, claro, com sentido e objetivo completos, sendo assim, o portador de texto, embora não se utilize de códigos gráficos para transmitir informações do remetente ao destinatário, ele o faz através dos elementos que a ele são peculiares. Um bom exemplo de portadores de textos seriam os gestos de despedidas, de tchau, de adeus, o gesto de jogar beijo, o gesto de dizer que tudo está positivo, o gesto de dizer com a cabeça uma negação, o movimento da cabeça como uma afirmação e o movimento que fazemos com as mãos no sentido de chamar alguém. Todos estes são portadores de textos porque ali, por meio de movimentos, sinais e outros elementos, podem informar o destinatário qual é a mensagem que queremos transferir. No entanto, é imprescindível saber que estes portadores de textos possuem seus valores apenas na localidade (meio social, ou contexto) em que o remetente e o destinatário estão. (Almeida, 2010)

SUPORTES DE TEXTO: são suportes os objetos elaborados especialmente para a escrita, como livros, revistas, papéis administrativos, periódicos, documentos em geral.

TRABALHO COLETIVO: redigir a partir de assuntos desenvolvidos nas diferentes disciplinas, trabalhos contendo: objetivo, procedimento e conclusão. Neste caso o professor vai redigir o objetivo junto com o aluno, explicando a eles o que significa objetivo, assim como procedimento e conclusão.

HORA DA LEITURA: é o momento em que o professor fará a leitura para os alunos, utilizando diversos textos (contos e fábulas). Antes de iniciar a leitura é importante que o professor faça a apresentação da obra (autor, título, editora, ano, etc.). Poderá ser feita também a troca entre os professores. O professor de uma turma realiza a leitura para outra turma, e assim sucessivamente, ou então pode-se reunir todos os alunos e a cada dia um professor realiza a leitura.

CARTAZES: trabalhar com os alunos, por exemplo, Direitos e Deveres, construindo com eles e deixando sempre que eles construam. É interessante que o professor dirija o trabalho de maneira que os itens de deveres e direitos tenham o mesmo número. COMBINADOS da sala: O que eu posso e o que eu não posso fazer. COMBINADOS do recreio: estabelecer com os alunos o objetivo do recreio.

ENTREVISTA: momento em que são convidados artistas da região ou profissionais especializados (bombeiros, eletricistas, engenheiros, professores, repentistas, contadores de histórias, etc.) para irem à escola e fazer uma apresentação/palestra/conversa. O evento demanda ação das crianças junto com o(a) professor(a): elaborar o cronograma, selecionar as pessoas, fazer o convite, organizar a apresentação da pessoa, avaliar a atividade, etc.
“A didática, assim como tudo o que a rodeia, é um organismo vivo, com vida independente dentro do corpo escolar. Ela se modifica, se transforma, se (re)faz.” 

Referências bibliográficas

ALMEIDA. G. P. de. Transposição didática: por onde começar? Cortez, 2005, São Paulo.
CHEVALLARD,Y. La transposición didáctica: del saber sabio al saber enseñado. Buenos Aires: Aique, 1991.
DALL`ASTA, R. J. A transposição didática no software educativo. Passo Fundo:
UPF, 2004.
PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas.Lisboa: Dom Quixote, 1993. 

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