sexta-feira, 24 de janeiro de 2014


CMEI – Professor Gil Nunesmaia
Coordenação Pedagógica: Márcia Cristina P. Cruz & Jacqueline Mesquita
Formação no Contexto institucional

 
Programa Formar em Rede – O percurso criativo do desenho e ambientes que educam 

A IMPORTÂNCIA DO DESENHO NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM INFANTIL 

Esta breve apresentação parte da necessidade em entender a importância do desenho na construção da aprendizagem infantil. O desenho e a escrita muitas vezes se misturam dentro das representações infantis, a criança cria sua própria forma de representação e diferenciação entre o desenho e a escrita. A cada representação que a criança realiza, o jogo simbólico e o desenho passam a ser uma necessidade, e é assim que elas vão se descobrindo dentro do processo de aprendizagem e desenvolvimento e consequentemente na aquisição da escrita, dessa forma a escrita deixa de ser uma representação mental e passa a ser uma representação gráfica, carregada de sentidos, assim como o desenho que primeiramente passa pelo plano da representação mental e só depois a criança passa à representação gráfica. Assim o desenho infantil pode ser considerado precursor da escrita, estando diretamente relacionado ao processo de construção da escrita. 
Os estudos sobre desenhos infantis interessam as diversas áreas que pretendem proceder um estudo sobre infância e desenvolvimento infantil, principalmente a psicologia que reconhece as intenções da criança quando a mesma representa a sua realidade através de seus desenhos, bem como os profissionais de educação que conseguem perceber nos desenhos pistas sobre a realidade na qual a criança está situada, podendo auxiliar nas intervenções pedagógicas a serem propostas. Para a criança o ato de desenhar representa a exteriorização de uma ação pensada, que por sua vez representa certa etapa da construção de seu pensamento. Ao refletirmos sobre o desenho infantil observamos uma pluralidade de possibilidades que se caracteriza como um modo alternativo da criança de se colocar no mundo.  
O ato de desenhar envolve a atividade criadora; é através de atividades criadoras que a criança desenvolve sua própria liberdade e iniciativa e outros o que permitirá. (LOWERNFELD, 1970 p.16)  
O desenvolvimento do pensamento da criança está ligado á capacidade representativa, para que o pensamento aconteça é necessário que haja a capacidade de tornar presente, isto é, de substituir coisas ausentes por meio de palavras e imagens. A cada representação que a criança faz, o jogo simbólico e o desenho passam a ser uma necessidade, e é assim que elas vão se inserindo no processo de aprendizagem, desde o estágio pré-operatório, onde se inicia o processo de representação, interagindo com a escrita como se a mesma fosse um jogo que contém regras e, também o imaginário. Dessa forma a escrita deixa de ser uma representação mental e passa a ser uma representação gráfica, carregada de sentidos, assim como o desenho que, primeiro passa pelo plano da representação mental e só depois a criança passa a representá-lo graficamente. Desta forma o desenho infantil pode ser considerado precursor da escrita, estando diretamente relacionado ao processo de aquisição de novas aprendizagens.
Os primeiros estudos sobre desenhos das crianças datam do final do século XIX onde o interesse pelos desenhos infantis começou a ser fonte de observação e pesquisa. Inicialmente as crianças desenhavam no chão e nas paredes tendo como materiais gravetos ou pedaços de carvão. O acesso ao papel e ao lápis era difícil por ser um material muito caro e de uso restrito. O artista italiano Conrrado Rizzi, demonstrou interesse ao ver desenhos feitos por crianças em uma parede o que despertou nele várias reflexões sobre as diferenças da arte entre adultos e crianças e em 1887. Rizzi publicou “A arte das crianças pequenas” livro onde registrou seus estudos sobre o tema. A criança não nasce sabendo desenhar, este conhecimento é construído a partir da sua relação direta com o objeto, assim são suas estruturas mentais que definem as suas possibilidades quanto a representação e interpretação do objeto. Desta forma a criança é o sujeito de seu processo, ela aprende a desenhar a partir de sua interação com o desenho. Vários teóricos seguem essa linha de pensamento quanto ao desenho infantil, dentre eles Luquet (1969), Piaget (1948), Méredieu (1995) dentre outros. Contudo, o  reconhecimento da contribuição psíquica começou somente no inicio de século XX, com trabalhos realizados por Luquet (1969). 
Para Luquet (1979, p. 213-214) [...] “o desenho infantil, enquanto manifestação da atividade da criança permite penetrar na sua psicologia e, portanto, determinar em que ponto ela se parece ou não com a do adulto” Isto porque, ao desenhar a criança inspira-se não só em modelos que se apresentam diante dos olhos, mas, sim, na imagem que tem em seu interior no momento em que desenha. Assim, o desenho é uma forma de representação que pode revelar o conteúdo da imagem mental da criança. Ainda conforme Luquet (1912), essa forma expressiva tem duas fases. A primeira – fase dos rabiscos e garatujas é caracterizada por uma série de traçados, à medida que os rabiscos vão sendo produzidos a criança começa compreender que aquilo que observa é produto de sua atividade. Os traçados começam a receber significação, e se tem início ao desenho propriamente dito. Luquet distingue quatro estágios do desenho infantil: o Realismo fortuito: começa por volta dos dois anos e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e o seu traçado passa a nomear seu desenho; Realismo fracassado: por volta dos 3 a 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma. Surge então uma fase de aprendizagem pontuada de fracassos e de sucessos parciais; Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10 anos, é o principal estágio e caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que sabe, essa forma expressiva. 
Segundo Piaget (1976) a capacidade de criação e inovação supõe construções efetivas e não simples representações fieis da realidade e classifica as etapas do desenho como: 
I) Garatuja: Pertence á fase sensório motora (0 a 2 anos) e parte da fase pré- operatória (2 a 7 anos). A criança apresenta extremo prazer nesta fase. A figura humana ainda não existe concretamente, mas pode aparecer da maneira imaginária. Á cor não é dada tanta importância. A fase da garatuja pode ser dividida em outras duas partes: A) desordenada: Apresentam movimentos amplos e desordenados. Simples riscos ainda sem muito controle motor, a criança ignora os limites do papel e se movimenta o tempo todo para desenhar. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças e olhos. B) ordenada: movimentos longitudinais e circulares; a figura humana pode surgir de maneira imaginária, pois já existe a exploração do traçado e interesse pelas formas. Nessa fase inicia-se o jogo simbólico: "eu represento sozinho". A criança atribui nomes a seus desenhos, conta histórias. Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são aleatórios, inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido a vínculos emocionais. A figura humana torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto à utilização das cores, pode- se usá-las, mas não há relação ainda com a realidade, dependendo do interesse emocional. A criança também começa a respeitar melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco. 
II) Pré-Esquematismo: (estágio Pré-Operacional) com três anos de idade a criança já atribui significado ao que desenha fazendo riscos na horizontal, vertical, espiral e círculos apesar de não nominar o que faz. Com relação ao uso das cores em suas produções, ela às vezes pode usar, mas não há uma relação forte com a realidade, pois depende do interesse emocional já que os elementos são dispersos e não relacionados entre si. Como aos quatro anos ela já é capaz de projetar no papel o que ela sente mesmo sendo incapaz de aceitar o ponto de vista de outra pessoa diferente do dela, até os seis anos o grafismo irá representar uma fase mais criativa e diversificada nas produções proporcionando uma descoberta maior nas relações entre desenho, pensamento e realidade. 
III) Esquematismo: (estágio Operações Concretas) a partir dos sete anos de idade as operações mentais da criança ocorrem em resposta a objetos e situações reais e com isso ela compreende termos de relações como: maior, menor, direita, esquerda, mais alto, mais largo, etc. Apesar de apresentar dificuldade com os problemas verbais, ela ainda traça a chamada “linha de  base” como aos seis anos apesar de representar a figura humana com alguns desvios como: exageros, negligências e omissão ou mudança de símbolos. Nessa fase a criança descobre as relações de cor, cor-objeto e progressivamente começa a desenvolver a capacidade de se colocar no ponto de vista do outro. Ao final do estágio das Operações Concretas, o desenho infantil apresenta a fase do Realismo onde a criança utiliza bastante as formas 
geométricas em seus desenhos com maior rigidez e formalismo e acentuam-se 
os usos das representações de roupas para distinguir os sexos. 
IV) Pseudo Naturalismo: (estágio Operações Formais e/ou Abstratas) a partir dos doze anos de idade o pensamento formal da criança é hipotético-dedutivo, isto é, ela é capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não somente através de observação real. Diante disso, essa fase do desenho infantil é marcada pelo fim da arte como atividade espontânea e passa a ser uma investigação de sua própria personalidade buscando profundidade e uso 
consciente da cor. Na figura humana as características sexuais são  exageradas existindo a presença detalhada das articulações e das proporções. 
Segundo Vygotsky (1987; 2007), o desenvolvimento do desenho requer duas condições, primeiramente o domínio motor. Assim a criança começa a perceber que pode representar graficamente um objeto e a relação desenvolvida com a fala existente ao desenhar. 
Vygotsky afirma que a linguagem verbal é a base da linguagem gráfica. (989, p.141) e classifica o desenvolvimento da expressão a qual dá o nome de gráfico-plástica nas seguintes etapas: 
I) Etapa simbólica - É a fase dos conhecidos bonecos que representam, de modo resumido, a figura humana. Esta etapa é descrita por Vygotsky como o momento em que as crianças desenham os objetos "de memória" sem aparente preocupação com fidelidade à coisa representada. 
II) Etapa simbólico-formalista - É a etapa na qual já se percebe maior elaboração dos traços e formas do grafismo infantil. É o período em que a criança começa a sentir necessidade de não se limitar apenas à enumeração dos aspectos concretos do objeto que representa, buscando estabelecer maior relação entre o todo representado e suas partes, já se pode perceber o início de uma representação mais próxima da realidade. 
III) Etapa formalista veraz - Nesta fase, as representações gráficas são fiéis o 
aspecto observável dos objetos representados, acabando os aspectos mais simbólicos, presentes nas etapas anteriores. 
IV) Etapa formalista plástica – Identifica-se uma nova forma, um novo modo de desenhar, pois como um desenvolvimento das habilidades motoras, o grafismo deixa de ser uma atividade com fim em si mesma e converte-se em trabalho criador. No entanto, há uma diminuição do ritmo dos desenhos que permanecem mais entre aqueles que realmente desenham porque sentem prazer neste ato criador. Ao descrever as etapas de desenvolvimento do grafismo infantil, o autor não se preocupa em detalhar o período da aquisição do sistema de representação do desenho. 

2. EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL  
Ao longo da história, o desenho tem adquirido diferentes sentidos e sendo executado com os mais diferentes propósitos, adquirindo um sentido social, uma vez que tudo possui uma forma gráfica. A arte de desenhar desperta nos seres humanos a sensibilidade, pois para que a imagem apareça no papel, ou em qualquer outro material, vários sentidos perceptíveis do nosso corpo trabalham: a visão, o pensamento criativo, o gosto sensitivo pela forma, cor e até a percepção de outros saberes. É comum a visão de que o desenho é apenas uma atividade prática, em que só se trabalha a mão, dissociando-o do pensar. Contudo, há uma estreita relação entre “pensar e fazer, teoria e prática, conceito e ação”. 
De acordo com as ideias sugeridas pelo Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (Brasil, 1998), o desenho como linguagem indica signos históricos e sociais que possibilitam ao homem significar o mundo. Portanto evidenciamos a Educação Infantil, como sendo a primeira etapa da Educação Básica como espaço de promoção e apropriação das diversas formas de linguagens e expressões, sendo o desenho dotado de significados. 

2.1- RABISCOS 

A criança rabisca pelo prazer de rabiscar, de gesticular, de se primorar. O grafismo que daí surge é essencialmente motor, orgânico, biológico, rítmico. Quando o lápis escorrega pelo papel, as linhas surgem. Quando a mão para, as linhas não acontecem. Aparecem, desaparecem. A permanência da linha no papel se investe de magia e esta estimula sensorialmente a vontade de prolongar este prazer (DERDYK, 2004, p.56). 
  O desenho parece surgir de forma espontânea e evoluir junto ao processo de desenvolvimento global da criança. Também é uma tentativa de comunicação formal e um meio de representação e simbolização. A criança expressa em seu grafismo aquilo que ainda não consegue com outras linguagens, por exemplo, a fala ou a escrita. Do ponto de vista evolutivo, foram propostas duas grandes etapas. A primeira quando as marcas deixadas pelas crianças no papel resultam apenas no prazer de rabiscar; a etapa seguinte é a do desenho propriamente dito, ou seja, uma manifestação representativa, caracterizada pela intenção de reproduzir algo. 
Embora as crianças manifestem possibilidades representativas no jogo de faz de conta, na linguagem e nas condutas imitativas, elas ainda não atribuem significado aos traçados. Apesar disso, essa etapa é muito importante para o desenvolvimento posterior, pois é no seu decorrer que as possíveis relações entre o lápis e o papel vão sendo gradativamente compreendidas. Aos poucos as crianças vão conquistando o controle motor. 
Os rabiscos não são apenas atividades sensório-motoras. Os traços confusos no papel podem conter evidências do estado de desenvolvimento da criança como também estarem ali pelo simples prazer da ação. O ato de desenhar é uma atividade inteligente, sensível, reclama a sua autonomia e sua capacidade de abrangência como meio de comunicação, expressão e conhecimento, possui natureza aberta e processual. 
Pouco a pouco esses primeiros movimentos rítmicos sobre o papel vão sendo realizados com mais precisão, mas estas não são conquistas isoladas elas aparecem juntamente com o desejo de representar algo. Quando observamos desenhos feitos por crianças pequenas, não conseguimos perceber o carro, o avião ou o balão. Do ponto de vista da materialidade dos traçados, ainda não há qualquer semelhança com o que vez ou outra eles afirmam ter feito. No entanto, o que importa é a intenção de representar uma ideia. Ao mesmo tempo em que os traçados vão sendo mais e mais interpretados, crianças começam a anunciar o que pretendem fazer antes da execução. Desta forma, o desenho constitui uma expressão da visão de mundo que cada criança possui, pois através do desenho a criança desenvolve suas potencialidades manifestando suas reflexões. 
Sendo assim, analisar a arte infantil nos possibilita a descoberta da construção espacial e das relações formais em elementos que a criança destaca e reorganiza segundo um critério próprio e individual.  
Referencias:

LOWENFELD, V. e BRITTAIN, W.L. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou. Trad. Álvaro Cabral. Primeira Ed. 1947. 1977.   
LUQUET, G. H. Arte Infantil. Lisboa: Companhia Editora do Minho, 1969.  
PORTUGAL, João Climeu Serra. A IMPORTÂNCIA DO DESENHO NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM INFANTIL. Disponível em:
Acesso em 03.11.2013.

MERÉDIEU, Florende de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 1974.

PIAGET, J. A formação dos símbolos na criança. São Paulo: Globo/EDUSP, 1976.  
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 
1989.  
 WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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